quinta-feira, 16 de março de 2017

"Educação estagnada, é sinônimo de futuro fracassado"


É um texto de desabafo. Em meio a revoltas populares, manifestações e paralisações que via de regra, impedem que outros cidadãos exerçam seu direito fundamental de locomoção, acabo por me surpreender com um amigo que, contra tudo e contra todos, resolveu remar contra a maré, um típico Pensador Fora da Gaiola, um educador, formador de opiniões, um professor por excelência. Aldim, este artigo, pouco didático e muito mais explicativo é pra você.

No último exame do PISA (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes, sigla em inglês) que é realizado pelo OCDE (Organização para Cooperação e desenvolvimento econômico) que avalia os estudantes dos países-membros da OCDE e convidados, e três áreas fundamentais, conhecimentos de matemática, de Ciências e de Línguas (obviamente a língua materna do estudante, portanto, compreensão e regras de funcionamentos da língua), na última edição de 2012, dos 65 países avaliados o Brasil estava na posição 59ª, ou seja, posição cinquenta e nove de sessenta e cinco, o Brasil agora, conseguiu piorar aquilo que já era ruim. Na última edição agora, divulgada no final de 2016, de 65 países, o Brasil alcançou a posição de 63ª, olhem o absurdo, só dois países avaliados tiveram posição pior do que a nossa.

O jornalista Ricardo Boechat, por quem confesso que nutro uma grande admiração, pela clarividência de suas palavras, pela análise crítica e pela pessoa inteligente que é, há algum tempo fez uma crônica que eu achei perfeita, ele disse o seguinte: […quando nós não temos como prioridade a saúde pública e a segurança pública, que para mim são duas áreas prioritárias e para ele também, você acaba matando o presente do país, porque são os nossos concidadãos que vão padecer nas unidades de pronto atendimento, nas unidades de urgência, nas unidades hospitalares, ou que estão submetidos a toda ordem de violências nas nossas ruas …]. Portanto, tanto pra mim, quanto para ele, saúde e segurança são prioridades máximas de um estado democrático de direito, de um estado civilizatório.

No entanto, segundo a avaliação que ele faz (e eu acho corretíssima) quando você tem uma saúde pública e uma segurança pública, precárias, que não são tratadas pelas nossas elites como prioridade (até porque as nossas elites têm planos de saúde, segurança particular em seus condomínios fechados, carros blindados etc.) você mata o presente do país, porém, a educação, ou melhor, a falta dela, mata o nosso futuro.

O que a gente sabe, é que a elite dirigente brasileira, os extratos sociais mais abonados, a educação para eles, via de regra, não é um problema, por que convenhamos, eles estudam nas melhores escolas particulares, vão cursar universidades públicas porque têm uma qualidade de Ensino Fundamental e Médio boa, que lhe garantem uma aprovação para uma universidade pública, ou vão estudar em excelentes universidades privadas, dentro e fora do país. Portanto, a educação para essa elite é uma preocupação, mas não é um dado grave.

No entanto, para a população mais pobre essa educação é absolutamente essencial. Eu estava ainda a pouco conversando com esse meu amigo Aldim e explicando que a população mais pobre tem pouquíssimas alternativas de mobilidade social. Ou você tem um talento muito especial para os esportes, e aí estamos falando de esportes de alto rendimento e que seja bem remunerado como o futebol, ou você tem um talento muito significativo para a música ou outras áreas congêneres, ou a terceira grande alternativa para a população pobre ascender socialmente é via educação, e acredite, para mim, a educação é uma prioridade da população brasileira. Em todas as pesquisas a população coloca a saúde, segurança pública e educação como elementos-chave para a mobilidade social e qualidade de vida. Todavia, lamento dizer, essa mesma educação não é prioridade no Estado Brasileiro, e observem que o Estado brasileiro é comandado por uma elite econômica e política que também não tem na educação algo que seja prioridade. Por exemplo:

O Brasil fala em Lei de responsabilidade fiscal (que eu concordo, é necessária, é possível e é urgente que se faça), no entanto, o senador Cristóvão Buarque propôs uma Lei de responsabilidade Educacional, onde Municípios, Estados e União se comprometem com parâmetros objetivos de melhoria de qualidade de educação, agora, perguntem-me quando que uma Lei dessas passa no parlamento brasileiro? Eu mesmo respondo: Nunca!!! Porque os políticos não querem se comprometer com parâmetros objetivos mensuráveis a respeito da melhoria da qualidade da educação no país. E aí o Brasil vai amargando, ano após ano, resultado pífio na educação, quando na verdade, não existe nenhuma receita de bolo pronta que possa ser aplicada a todos os casos.

Mas, via de regra, a maioria dos especialistas e outros que se dedicam a refletir sobre o caso (creio que o Aldim é um desses) costumamos eleger cinco elementos-chave, que não são nada extraordinários, mas que são condição sine qua non de embasamento de uma boa educação.

1º Um professor bem formado é um elemento-chave. Pesquisa recente realizada por uma universidade Australiana mostra que a maior diferença no processo de “ensino-aprendizagem” quem faz é o professor. Não e a metodologia de ensino, não é a escola, não e laboratório, não é equipamento… é o professor. Então, ter um professor bem formado é uma condição essencial. Por outro lado, significa dizer que deve existir um plano de carreira bem estruturado e que seja atraente. Hoje no Brasil, apenas 2% dos estudantes querem ser professores. Na Coreia do Sul, onde o plano de carreira é atraente e os salários altos, 30% dos estudantes querem ser professores. Sendo assim, sem ter um professor bem formado, bem remunerado e com uma carreira atraente e estruturada, nós vamos continuar amargando o mesmo problema.

2º Precisamos ter um aluno que tome consciência de que o processo de “ensino-aprendizagem” é o seu passaporte para a mobilidade social.

3º Precisamos ter uma família que entenda que o processo de “ensino-aprendizagem” não é feito a duas mãos, as do professor, ela é feita no mínimo a seis mãos, as do professor, as do aluno e as mãos dos pais. Educar dá trabalho? Dá! Indiscutivelmente, dá trabalho, mas isso é algo que os pais escolheram quando decidiram ter filhos, então, participar deste processo, não deve ser só uma obrigação, deve ser acima de tudo uma alegria poder contribuir com o crescimento intelectual dos filhos.

4º Nós precisamos ter uma política de Estado na educação brasileira, e não apenas uma política de governo, porque a cada governo mudam-se todas as prioridades.

5º Precisamos ter uma infraestrutura básica de educação. Não precisamos ter um laboratório de primeira geração ultramoderno, mas precisamos ter uma escola que ofereça um mínimo de conforto e instalações adequadas para que a produção e a transmissão de conhecimento se dê de maneira adequada. Sem isso, a gente vai continuar amargando os piores indicadores da educação, matando o futuro de nosso amado país, e ouso dizer, com essa classe política que nós temos hoje, talvez este seja o desejo mais profundo que eles tenham, um povo sem educação que não sabe hoje e provavelmente não saberá no futuro, lutar pelos seus direitos.

Edson Moura


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