sábado, 12 de novembro de 2016

Depoimento sobre o meu livro "45 Dias de Pânico Total: Psicólogo relata como conseguiu sobreviver"



  • Queria falar a respeito do livro do Marcio que estou lendo “45 dias de pânico total”. Primeiramente, quando li o título fiquei com um sentimento ambíguo. “Pánico”, não tem a ver comigo. Hum. “45 dias” não deve ser um livro técnico sobre síndrome do pânico como já estudei na faculdade. Deve ser vivência, deve ser humano, pensei. Isto tem a ver comigo. Comprei e estou lendo. Bom, não me enganei, é humano, e muito, não fala só de pânico e o Márcio relata sua experiência de sofrimento, seus sentimentos, suas sensações, seus pensamentos estando muito mal. Dificil não se identificar. Consegue descrever aquilo que quase todos sentimos sem, muitas vezes, sabermos nem o que é. Enfim, depois eu volto a comentar quando tiver adiantado mais no livro.
  • Muito bom Márcio, muito corajoso.

Escrito por: Christophe Blondin 

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

"40 dias no Vale da Sombra da Morte"


Título original: Carta a um Confrade
  
Caro confrade Márcio

Dias atrás me pediste para fazer uma resenha crítica de teu livro recém lançado ― “45 Dias de Pânico”. Confesso que me senti incapaz de realizar tal façanha, ante a impossibilidade de tratar de um assunto tão intrínseco subjetivo e altamente individual. Preferi, te escrever uma carta, ao estilo dos velhos tempos em que nem de longe imaginávamos o advento de um progresso tecnológico tão atraente como o da internet.

Recebi teu livro por e-mail, e comecei a lê-lo aos poucos, para degustar melhor. Na ocasião, em uma mensagem postada no teu Face, falei que estava iniciando a leitura de tua passagem pelo “Vale da Sombra da Morte” ― expressão de grande valor metafórico e muito conhecida entre nós, que tivemos um passado não mui agradável pelos meandros da religião. Ressalte-se aqui, que os arquétipos religiosos plantados nos arquivos mais profundos de nossa psique são indeletáveis, e a todo momento, sem que percebamos, estão eles a enviar ressonâncias para o tempo presente.

Como você bem sabe, a psicanálise jamais teria existido sem o pano de fundo dos símbolos e dogmas religiosos da tradição judaico-cristã, a qual, por sinal, é a base de toda a cultura do mundo ocidental. Os grandes expoentes da Psicanálise beberam dessa fonte inesgotável: Freud (seu herói era o Moisés retratado por Michelangelo) fez uma leitura partindo dos mitos judaicos, considerando a religião uma “ilusão infantil” ou neurose obsessiva(mas quem não tem um pouco dessa “loucura”? Se não fosse a tal da neurose nesse nosso mundo esquizóide, não existiria o artista, que é justamente aquele que consegue dar as suas experiências dolorosas um significado elevado para si e para os demais). Jung, brilhantemente aproximou sua nascente ciência da rica simbologia do Protestantismo (seu pai era um pastor protestante). Lacan, católico, por sua vez, conciliou Freud com a simbologia dos termos aparentemente ambíguos presentes nas histórias bíblicas, substituindo a palavra “Deus!” ou imago-deus de Jung, por “Grande Outro”.

Logo na página 25 do teu livro, um insight, ou mesmo o sentimento “religa-re”(de natureza religiosa) creio eu, vindo dos obscuros porões do teu inconsciente, me prendeu a atenção, quando repetiste uma das frases mais contundentes do messias que os evangelhos relatam: “A Minha Alma está Angustiada até a Morte.

Na página 75, para expressar a forte dimensão analógica de tua angústia como companheira inseparável (e não poderia ser diferente), recorreste as regiões abissais dos arquivos arquetípicos religiosos escondidos em tua psique: “...igual a Jesus disse do seu Pai nos evangelhos. Que Ele e o Pai (Deus) eram um.”

Ainda sobre a desditosa e inseparável angústia, na página 89, eis que me deparo com uma ressonância poderosa do tempo em que eras pregador das Boas Novas: Por que Afinal Tenho Que Recorrer à Bíblia? Tu mesmo respondes de forma profunda, tanto do ponto de vista psicanalítico, quanto do ponto de vista teológico: ...porque ninguém em sã consciência deseja e vai ao encontro dela…, nem precisa mesmo…, ele é quem vem sempre ao nosso encontro.” O conteúdo do inconsciente é assim: nós não o escolhemos; ele vem a nós quando nos desarmamos.

Perdão peço, porque em meio a descrição de tua enorme agonia, não pude evitar que a figura de Edir Macedo viesse a minha mente, quando li a expressão largamente usada e abusada no meio fundamentalista ― “Demônios da Insônia”, na página 95. Na ocasião lembrei-me de um texto por mim postado em junho de 2010 na C.P.F.G.: “Sobre Nossos Demônios Interiores”, de onde, para avivar a memória, retiro esse pequeno trecho:

É nesse grande palco mental que o apóstolo Paulo denominou de “lugares celestiais”, que se trava a imaginária luta entre as forças divinas e diabólicas”  que rendeu 120 comentários. Dentre eles, ressalto a tua irretocável réplica: “Sendo assim, conhecemos um pouco do caráter do sujeito através da imagem que ele nutre de seu deus”.(Marcio)

Na página 123, com o sub-título “Afinal o que Deus tem a Ver com Isso?” esboças uma reação (afinal, somos todos reativos). Continuando, fazes a seguinte afirmação (ou reação defensiva – Freud explica – rsrs): “Não acredito na existência de Deus! Acabou a minha fé em um Deus celeste.”

Considero que quando afirmamos “sou ateu” estamos defensivamente a nos referir àquela parte obscura e recalcada de nós que nos incita a anular uma provocação, talvez vinda do inconsciente. Quando a provocação vem, seja de fora (de outro) ou interna, o sujeito ativa o mecanismo de negação. Quando a cobrança ou ameaça vem da esfera do inconsciente, o indivíduo passa a guerrear contra si mesmo. Freud, certa vez, disse que estamos fadados a perder no conflito com o Superego. O equilíbrio reside em fazer as pazes com essa imago-paterna-ameaçadora, tornando-a menos importunadora, nunca tentando desafiá-la ou destruí-la

Sabemos que o que mais caracteriza o homem é a sua contradição ou ambivalência, como tentei passar no último ensaio do meu blog “Ensaios&Prosas”, que tem por título: “Homem, Teu Nome é Paradoxo!”. Do qual replico seu epílogo:

"Quem livrará o nosso EU, do peso da Contradição?” Quem atentar para essa brilhante enunciação da dúbia alma humana realizada pelo apóstolo fundador do cristianismo, verá que ela está em perfeita consonância com o sujeito da psicanálise, que às avessas do jargão cartesiano 'penso, logo existo', abarca o Homem Paradoxal com esta emblemática frase:'Penso onde não sou; sou onde não penso'.”
 
Olha lá o que colhi da paradoxalidade dos nossos afetos (advinda do polo que, devido certas circunstâncias, consideramos negativo) que a tua veia poética traduziu em forma de uma extraordinária prece:
Meus Deus, como faz bem para minha alma tão sofrida e angustiada, ficar neste momento… ...olhando a tranquilidade, serenidade e paz do meu filho dormindo.” (Márcio  45 dias de Pânico  página 130)

Jung, já bem avançado de idade, fez uma declaração autobiográfica que considero emblemática para o nosso tempo tão des-humano: “Não posso me referir aos meus relacionamentos mais íntimos que me voltam à mente como lembranças longínquas, pois constituem não somente minha vida mais profunda como também a dos meus amigos.” (“Memórias, Sonhos, Reflexões”  Carl G. Jung — página 21)

No capítulo “Antes de Tudo Religião” (página 183), Márcio, meu caro confrade, fazes aflorar uma profusão de lembranças que,creio eu, tem ainda hoje o condão de te impulsionar a escrever, escrever e escrever sempre… sobre teu ser em si, como mostra tão bem o parágrafo abaixo:

A religião foi durante grande parte de minha vida, meu chão, meu norte, minha bússola… A pior coisa que me aconteceu na vida foi ter-me tornado 'ateu'. […] Eu queria transformar o outro (crente) em ateu, justamente porque o 'outro' era meu espelho que refletia o que já fui e ainda o que está bem vivo dentro de mim.”

Lendo o teu instigante livro, de modo reflexivo, não consegui nas entrelinhas, identificar em ti a ausência desse tal ‘sentimento sublime!” que grupos religiosos banalizaram para interesses mercadológicos. Como escrevi em um artigo nos idos de 2011 a um amigo da blogosfera:

"embora uma pessoa rejeite toda a crença, dogma e ilusão religiosa, não significa que ela tenha anulado o sentimento nobre de re-ligar-se a um éden utópico”.

P.S.:

Mas voltando ao título do teu livro. Usando o simbolismo judaico-cristão do número 40, e à guisa de encaixá-lo dentro de uma metáfora bíblica, penso que não seria tão danoso subtrair cinco dias de tua agonia para denominá-lo de: “40 dias no Vale da Sombra da Morte” ― tema que faria o Eduardo, o Esdras e o J. Lima se esbaldarem em comentários psico-teológicos, como fazíamos naquele saudoso e idílico tempo da C.P.F.G. (rsrs)

Abçs,

Levi B. Santos

Guarabira, 02 de novembro de 2016

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