sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Quer mesmo saber quem é você?


Acredito que você, alguma vez já se perguntou “QUEM SOU EU?”. Claro que sabemos que a resposta a pergunta “quem sou eu?”, está, grandemente ligada, em parte, a nossa identidade.
Mas qual é a base da nossa identidade? Pois se a vida é uma constante mudança, ou como diz Raul Seixas em uma das suas canções, que ele preferia ser “uma Metamorfose ambulante”, como podemos acreditar que temos uma identidade? – uma vez que identidade pressupõe algo “fixo”, “identificável”, que é "permanente".
O filósofo Heráclito já dizia que não podemos atravessar o mesmo rio duas vezes, pois nem nós somos o mesmo de antes (que atravessou), e nem às águas do rio são as mesmas (atravessadas por nós).
De fato, vivemos sempre sendo transformados: seja fisicamente – internamente às nossas células vão se renovando diariamente, como externamente, nosso corpo vai envelhecendo; seja psicológica e emocionalmente – somos afetados por um mundo repleto de acontecimentos, como vamos amadurecendo ao longo da vida; seja relacionalmente – vamos sempre ser influenciados pela fala (carregada de valores, significados) das pessoas ao nosso redor; seja tecnologicamente – através das redes sociais, da televisão, internet; seja por livros – nosso repertório verbal (incluindo crenças) e intelectual depende (e muito) do que lemos; enfim, de uma infinidade de coisas.
Sendo assim, como podemos ter certeza de sermos nós mesmos e não uma mera ilusão de que somos nós mesmos? Tenho alguns “palpites” para compartilhar.
Primeiro, graças à nossa memória, de podermos revisitar a qualquer momento nossa história. Ou seja, podemos acessar, recorrendo sempre a nossa própria história de vida, como um testemunho “verdadeiro” de nós – nosso passado “fala” por nós.
Segundo, graças às narrativas: as que contamos de nós - às histórias da nossa vida que compartilhamos; as que contam de nós - aquelas histórias que as pessoas falam de nós para os outros; por nós - como somos apresentados; e pra nós - as coisas que falavam (e falam) de nós pra nós.
Explico melhor: a narrativa é um recurso que dispomos, para dar coesão a nossa história, pois através dela, podemos dar uma linearidade a nossa vida, organizando a mesma através de histórias narradas. E isto, não só relatadas por nós, mas também pelas pessoas que nos são mais próximas.
Elas dão testemunho, contando eventos que são, às vezes, coerente com nossa própria narrativa, outras vezes, contraditório. Ou seja, as pessoas podem tanto validarem nossas histórias, como contradizer.
Talvez por isso, Jesus tenha nos evangelhos perguntado aos seus discípulos “o que dizem (o que falam, contam) quem eu sou?”, pois o que contamos uns dos outros é em parte, definidor de nós mesmos.
Terceiro, às relações sociais, nas quais estamos inseridos, que fazemos parte, são de certa forma, definidoras de nossa identidade – por isso diz sabiamente o ditado popular “diga com quem tu andas, e eu direi quem tu és”.
Em quarto, a uma fidelidade que assumimos diante de um compromisso passado. O que estou dizendo aqui, é que assumimos para nós, uma identidade que esta ligada a algo realizado no passado.
Que graças a essa nossa fidelidade a um acontecimento passado, nos vemos no dever de manter, de continuar, é que criamos e mantemos uma identidade.
Como exemplo, um homem que se torna pai: ele assume o compromisso – não somente, mas inclusive, jurídico – que biologicamente ele é o pai de uma determinada criança, podendo vir assumir uma relação afetiva, de pai pra filho, vivenciando assim, uma identidade.
Concluindo, penso que temos uma identidade, mas que dentro dessa identidade, estamos constantemente numa espécie de jogo de nós para com o outro, aonde o outro, complementa (e vice-versa). Exemplo: sou pai, mas sou pai de “alguém” que é meu filho.
Nesse sentido, sempre somos e estamos em relação com outro "alguém". Por isso, que às relações são tão importantes na construção de nossa identidade, ainda que esta nunca esteja definitiva, fechada e acabada, mas que a base dela será fundamentada nas relações familiares, com a comunidade, cultura e sociedade, onde estamos inseridos.

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