sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

O Suicídio - Émile Durkheim

Sobre o Livro:

O Suicídio foi um dos pilares no campo da sociologia. Escrito pelo sociólogo francês Émile Durkheim e publicado em 1897, foi um estudo de caso de um suicídio, publicação única em sua época, que trouxe um exemplo de como uma monografia sociológica deveria ser escrita.

Inúmeros estudos contemporâneos sobre o suicídio focavam em características individuais. Durkheim estudou as conexões entre os indivíduos e a sociedade. Ele acreditava que se pudesse demonstrar o quanto um ato individual é o resultado do meio social que o cerca, teria uma prova da utilidade da sociologia. Neste livro, Durkheim desenvolveu o conceito de anomia. 

Ele explora as diferentes taxas de suicídio entre protestantes e católicos, explicando que o forte controle social entre os católicos resulta em menores índices de suicídio.
De acordo com Durkheim, os indivíduos têm um certo nível de integração com os seus grupos, o que ele chama de integração social. Níveis anormalmente baixos ou altos de integração social poderiam resultar num aumento das taxas de suicídio:

Níveis baixos porque baixa integração social resulta numa sociedade desorganizada, levando os indivíduos a se voltar para o suicídio como uma última alternativa;

 Níveis altos porque as pessoas preferem destruir a si próprias do que viver sob grande controle da sociedade.

O trabalho de Durkheim influenciou os proponentes da Teoria do Controle, e é frequentemente mencionado como um estudo sociológico clássico.

Pág: 445

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Em Breve (Portal Stopim)

Olá amigos que por tanto tempo acompanharam este blog. Venho anunciar por meio de mais esta postagem, que em breve um novo portal estará online para que possamos interagir. Depois de aproximadamente 2 anos com o blog “Outro Evangelho”, achei por bem dar continuidade ao meu trabalho de divulgação de notícias, proposição de reflexões e algumas vezes denúncias, em outro lugar. Um lugar mais apropriado, mais funcional do que um simples blog (sem querer de forma alguma diminuir a importância este veículo de comunicação).

Após quase dois meses de pesquisa e de exaustiva procura por uma empresa que pudesse desenvolver um Site com as características que eu buscava, encontrei A “Chairô desenvolvedores” e acreditem ou não, são evangélicos (risos). Pois bem, o Logotipo já foi criado, e patenteado, o domínio já está registrado e a hospedagem também já foi providenciada, ou seja, falta pouco... muito pouco.

Porque estou escrevendo tudo isso? Apenas para divulgar o novo endereço? Sim e não! O que quero comunicar é que logo mais, é bem possível que eu não mais escreva aqui. Assim como também pararei de postar no blog “Produtos do Amor” e no “Blog do Noreda”. Isso quer dizer que o Noreda enfim desaparecerá? Não! O Noreda certamente ainda estará ativo no novo endereço, assim como o Edson Moura, Marcio Alves e outro amigos que por tanto tempo acompanharam o “Outro Evangelho”

Dentro de alguns dias entrarei em contato com alguns dos companheiros para fazer a convocação formal para serem co-autores do novo Site. Isso mesmo! Levi Bronzeado (Psicanálise), Eduardo Medeiros (Religião e História), Marcio Alves (Psicologia), Altamirando Macedo (Ciências), Gabriel Nagib (Genética), Guiomar Barba, Ercio Baltazar (Denúncias eFilosofia), Emiliano Caratta (Sustentabilidade), Renata Moura (Educação), Carlos Viana (Cultura e Lazer), entre outros serão convocados para contribuir com este novo trabalho.

“Portal Stopim” é o nome do Site. Um lugar onde a informação jamais estará atrelada à entidades governamentais, onde a denúncia será feita e “re-feita” quando não surtir efeito na primeira vez. Um jornal! Sim, um jornal é o que será. Mas um jornal desvinculado, sem corporativismo, sem dogmas acadêmicos, sem “rabo-preso”, não tendencioso, não “puxa-saco”, não covarde, sem limites para veicular o notícia e esperar que ela exploda quando sua gravidade assim o exigir.

Certa vez meu amigo Esdras Gregório exortou-me dizendo que eu apenas escrevo, que não passo de um demagogo, que era preciso ser mais ativo na propagação dos meus ideais, pois bem, como não posso formar um grupo radical extremista e assassino, faço uso daquilo que por tanto tempo tem sido minhas armas, a saber, a escrita. Aí está Gresder, chegou a hora de arregaçar as mangas e botar a mão na massa, fazer a diferença na Internet, usar esta ferramenta para tentar mudar o obscuro futuro de nosso País. (Por falar em Gresder, alguém sabe por onde ele anda?)

“Portal Stopim” é um investimento à longo prazo, talvez seja necessário alguns anos para que o Site ganhe relevância, mas assim como apenas dois amigos (Marcio e Eu) conseguimos levar o “Outro Evangelho” até os níveis mais altos no Google, nada impede que muitas cabeças pensando juntas e com consciência de que algo precisa ser mudado, não consiga também atingir os patamares de um “G1” ou um “R7”. “Não quero mudar o mundo, não ele todo, apenas este mundo que me circunda”. Conto com a colaboração de todos.

Edson Moura dos santos


domingo, 20 de novembro de 2011

Quem somos nós?

Por: Marcio Alves


Somos, desejando ou não, buscando ou não, o que já vamos sendo na construtividade do nosso eu em um contexto que é construído, vivido e absorvido pelo cultural, social e geográfico em um determinado e limitado espaço e tempo histórico.

Somos na medida em que vamos deixando de ser para nos tornar quem somos, onde cada porta aberta fecha outra, e, cada porta que fechamos atrás de nós, abre outras, nos levando sempre por caminhos e descaminhos, por possibilidades e não possibilidades, que no final desembocará num determinado futuro que se tornará presente.

Somos a somatória de experiências vividas, como subtrações de não acontecidas em meio a uma vida já determinada pela aleatoriedade e contingência do acaso da vida, mesmo negando, rejeitando ou se arrependendo do passado, pois o passado não nos nega, rejeita e se arrepende de nós, pois tal como é nosso passado assim é a nossa historia de vida, ainda que sejamos no presente já não sendo mais como éramos no passado que ficou para trás, mas que como sombras continuam nos acompanhando.

Mesmo lutando contra nosso eu formado pela identidade adquirida no tempo e experiência de vida, não vamos apagar quem fomos e quem somos, pois só somos porque fomos um dia, e fomos um dia porque estamos sendo não mais o que éramos antes.
Nosso passado foi como esta sendo e sempre será a ponte que nos trouxe até o presente momento.

Somos o que foi determinado pela genética do nosso eu biológico que constitui nossos genes, temperamento, vontades e desejos.
Para uns, mais agressividade, para outros, mais amabilidade, mas para todos nós, uma identidade impar, que faz nós sermos quem somos justamente por não sermos que não somos.

Somos um produto do meio em que vivemos.
Onde, com quem, quando, e como vivemos é o que tem também nos modelado a ser o que temos sido, na medida em que vamos vendo, ouvido, percebendo, tocando, experimentando, cheirando, saboreando, lembrando e pensando o mundo externo a nós, num mundo objetivado pela concretude da vida, vamos simultaneamente internalizado subjetivamente os seus valores, desejos, vícios, prazeres e idéias, formando assim paulatinamente nossa identidade na identificação de olharmos para o espelho do mundo e vermos a nós mesmos.

Somos uma singularidade de reações, emoções e pensamentos, ao mesmo tempo em que somos um universo infinito de caos que está para além do entender do próprio sujeito, que na vida pratica acaba por se limitar este mesmo universo subjetivo de liberdade, possibilidades e escolhas, para preservar mantendo-se no meio social em que foi escolhido para viver.

Somos no fim das contas, uma totalidade de fatores somados ao mesmo tempo esquecidos, inatos ao mesmo tempo adquiridos, negados ao mesmo tempo integrados a nossa identidade, que tal como uma historia para ser entendida precisar ser vista em seu todo, assim somos nós visto em partes pelas pessoas que por mais que nos ame e nos acompanhe, não consegue nos ver pelo nosso todo, por isso, cada um vê em nós o que querem ver e não o que somos realmente, e até porque, quem somos esta constantemente passando e mudando pelas intermináveis variações de ambiente-externo e ambiente-interno.


Somos o que deveríamos ser ou não somos porque não escolhemos ser?


Não sei, o que sei é que o mais importante de tudo na vida que se vai vivendo e sendo, seja por aleatoriedade ou escolhas, por pré-condições e determinações não escolhidas ou ausência de querer é o que estamos fazendo com o que a vida fez de nós sermos, pois só assim, será o triunfo do ser sobre tudo que fez ele ser quem é, mesmo que seja ilusório, pois no final das contas não seria o que fazemos da vida que fez de nós sermos só possível porque a vida á priori fez de nós?

domingo, 6 de novembro de 2011

A cibernética lacaniana

Por Edson Moura
Existe um texto de Lacan com o nome de “Psicanálise e Cibernética”, ou “Acerca da Origem das Linguagens”, com data de Junho de 1955, que ainda é pouco estudado pelos historiadores de Psicanálise. Nele Lacan propõe uma interessante aproximação entre a sua teoria do Inconsciente e a Cibernética, uma disciplina então nascente e que décadas mais tarde iria se tornar a nossa já conhecida “Inteligência Artificial”. Curiosamente, nem mesmo os mais competentes biógrafos de Lacan, como, por exemplo, Elizabeth Roudinesco, sequer mencionam essa conferência.

Por qual motivo omitiram esse pensamento lacaniano acerca da Cibernética? Talvez essa seja uma atitude intencional de alguns psicanalistas que vêem na Inteligência Artificial e na Ciência Cognitiva algo necessariamente oposto à Psicanálise. A ciência Cognitiva é demonizada, de forma caricatural, como uma espécie de teoria diabólica que visa, em última análise, transformar os seres humanos em máquinas. Essa tendência aparece na obra de Roudinesco, especialmente no livro “Por que a Psicanálise?”, que tem passagens ácidas no que se refere à Ciência Cognitiva.

Mas outra hipótese que o texto dessa conferência revela-se extremamente complexo para aqueles que não têm formação em Ciência da Computação. Nele, por exemplo, aparecem desenhos em tabelas que parecem, à primeira vista, estranhos. Eles são, na verdade representações de portas lógicas de um computador.

As portas lógicas são uma espécie de representação elétrica do pensamento humano. Se assumimos que quase todo pensamento é constituído de proposições e que elas são, invariavelmente, ou verdadeiras ou falsas, podemos construir um circuito elétrico que as represente. A idéia é que “verdadeiro” ou “falso” podem corresponder, reciprocamente, a 0 e 1, e estes, por sua vez, a um circuito fechado (no qual passa corrente) ou um circuito aberto (no qual não passa corrente). É da idéia cotidiana de que nosso raciocínio são proposições verdadeiras ou falsas que são constantemente combinadas na forma de um cálculo que surge a semelhança entre circuitos elétricos e mentes ou, em última análise, entre mentes e computadores.

Mas por que Lacan estaria preocupado com isso? A Razão parece estar no fato de que há outro conceito fundamental que norteia a Ciência da Computação e a programação de computadores: a “recursão”.

A recursão é um tipo de processo no qual um de seus passos envolve sua repetição completa. Uma forma humorística de definir a recursão é dizer que “as bolachas vendem mais porque são fresquinhas e são fresquinhas porque vendem mais”. O que se percebe nesta frase é um procedimento de repetição, no qual, se não houver uma instrução especifica para parar, continuará assim por um tempo indeterminado. Ou seja, a recursão é o procedimento em círculo, sem que se coloque um fim para ele.

Procedimentos recursivos são a base da construção de algoritmos (programas). Mas isso ocorre não somente com as linguagens artificiais utilizadas pelos computadores. Nossa linguagem natural também é recursiva. Na década de 1950, Noam Chomsky propôs essa hipótese. Quando escrevemos uma sentença, podemos sempre acrescentar uma outra a ela, e assim por diante, num processo infinito. “Há um garoto sentado na ponte” pode se transformar em “Há um garoto que matou seus pais sentado na ponte” e “Há um garoto que matou seus pais sentado na ponte criando coragem para pular” e assim por diante. A linguagem remete à própria linguagem e este é um procedimento circular repetitivo.

Ora, Lacan acompanhava os progressos da Cibernética nos anos 50 e, possivelmente, conhecia os trabalhos de seus pioneiros, entre eles o de Norbert Wiener, que estava profundamente envolvido com a programação de computadores. Da mesma maneira, os trabalhos de Chomsky acerca da recursão em linguagens naturais também deviam ser conhecidos por Lacan.

Se a linguagem é recursiva, nos diz Lacan, o inconsciente também o será, já que está estruturado na forma de uma linguagem. É daí que vem o caráter repetitivo do inconsciente, o fenômeno da repetição inexorável, identificado por Freud na sua obra de maturidade. A repetição em um processo neurótico é praticamente interminável, a não ser que em algum momento haja uma instrução para interrompê-lo, como pode ocorrer na psicoterapia. A neurose é um procedimento recursivo e, para explicar sua natureza, teríamos de buscar um modelo cibernético para ela. O neurótico é uma máquina “em looping” e é isso que o aproxima da pulsão da morte. Essa é, em síntese, a mensagem da conferência de Lacan transcrita no seminário II.

Talvez devamos, então, reconsiderar a posição da Psicanálise diante da Inteligência Artificial e da Ciência Cognitiva. Talvez Roudinesco esteja excessivamente à margem esquerda do rio Sena para poder vislumbrar o interesse de Lacan por essas disciplinas, que na década de 1950 , já eram pesquisas científica de ponta. Mas para reconhecer isso será preciso abandonar preconceitos que permeiam a historiografia da Psicanálise. Provavelmente são eles que não permitem que os historiadores da Psicanálise consigam vislumbrar a verdadeira dimensão dessa conferência de Lacan e prefiram não mencioná-la.


Fonte: Revista Filosofia edição 64 pág 37 (João de Fernandes Teixeira, Ph.D pela University of Essex Inglaterra/Professor titular na Universidade Federal de São Carlos site www.filosofiadamente.org)

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

A evolução da moral e da ética




Por Por Noreda Somu Tossan

Seria possível condensar os valores todos num só, ou num essencial? Seria a “decência” esse condensado de tudo que julgamos bom? Porque se pensarmos na grande referência moral de nossa tradição, “Os dez mandamentos bíblicos”, eles se caracterizam, antes demais nada, por serem vários, muitos. A versão judaica, aliás, não coincide exatamente com as diferentes versões cristãs. Os cristãos admitem imagens de Deus, ao contrário dos Judeus, e a igreja Ortodoxa chega mesmo a dar papel importantíssimo aos ícones. A Igreja Católica, além disso, acrescentou cinco mandamentos dela própria, diga-se de passagem, bem menos impactantes que os revelados à Moisés no Monte Sinai.

Hoje, se quisermos penar no que é bom e correto, os mandamentos de Deus não são suficientes (e também têm alguns excessos). Quer dizer que precisamos incluir o que lhes falta exemplo: o respeito às religiões diferentes e também ao ateísmo, a igualdade dos sexos, a não descriminação dos outros povos, o fim da escravatura, enfim, uma série de preceitos morais que nos textos sagrados passam em silêncio, mas que se tornou fundamental para nós no século XXI. e também precisamos retirar alguns pontos que, embora façam sentido do ponto de vista religioso, não garantem que uma pessoa seja ética (decente), exemplo:

Não tomar o nome de Deus em vão, não adorar outros deuses e santificar um dia por semana são prescrições em determinada religiões, algumas, mas não para todas, o que não faz do adepto da religião que não pratica tais costumes, um imoral ou indecente. Ateus e agnósticos por exemplo não estariam obrigados por elas. E nem por isso, essas pessoas que não vêem sentido em um terço dos mandamentos judaico-cristãos, são sujeitos maus.

Fica então a pergunta: a ética se constrói pela constante agregação de novos conceitos ou se pode derivar de um preceito essencial? A ética é um “catálogo” de virtudes ou tem um cerne, uma origem, uma essência? Cada vez que as Nações Unidas convocam uma nova conferência internacional, que anuncia mais uma declaração dos direitos (introduzindo o direito à moradia, proclamando os direitos das crianças e dos adolescentes, mandando que se respeitem os povos aborígenes), elas estão de fato acrescentando princípios novos a uma lista cada vez maior de obrigações, ou será que tudo isso poderia ser pensado a partir de um, ou alguns poucos princípios básicos?

A moral parece-se mais hoje em dia com uma lista de compras, que vamos ampliando cada vez que nos lembramos de uma coisa nova. É evidente que a sociedade atual declare quais são seus direitos, inclusive alguns nunca antes lembrados. Mas não podemos esquecer que, declarar não é promulgar. Declarar é reconhecer que eles valem, não é criar. Você declara a partir de algo que já existe, mesmo que muitos não tenham consciência dele. Daí então surge o maior dilema em minha opinião: jamais criamos preceitos morais? Ou criamos? Modificamos os anteriores? O que já foi descente se torna agora indecente e vice-versa?

Acredito que hoje, quase tudo o que diz respeito à ética pode derivar de dois grandes princípios, a igualdade (não com uma conotação comunista) e a liberdade (não com conotação anarquista). Se somos iguais não podemos desrespeitar o outro, sermos arrogantes, intolerantes ou corruptos. O voto de todos tem o mesmo peso nas eleições. Se somos livres, devemos responder por nossos atos e também reconhecer a liberdade dos outros. Para o século XXI acredito ser a resposta mais adequada, mas daí vem outros dilemas: Isso é retroativo? Vale para o passado? Machistas e escravagistas de uma época que tolerava essas condutas, como ficam no retrato ético atual? Ou devemos reconhecer que a moral muda com o tempo?

Edson Moura



quinta-feira, 13 de outubro de 2011

O rebanho de um homem


Por Edson Moura

Acumular é um dos mais profundos instintos da alma. Porque a alma ama, e o amor deseja sempre possuir. Se eu amo aquela casinha de cercas brancas, onde há uma seringueira com balança e um riacho, por que não possuí-la, se posso? Ora, se ela for minha, certamente cuidarei dela, quem sabe até pintarei as janelas de azul. Se eu amo a música que ouço, por que não comprar o CD e tê-lo só pra mim? O Levarei para casa e ouvirei quantas vezes quiser, desfrutando assim daquilo que é meu. O amor é onívoro, quer comer tudo. Sabe-se que, comer é a forma mais radical de possuir. Comendo o que estava fora e era outro, passa então a ser parte do seu próprio corpo.

Juntei algumas riquezas e estou sendo açoitado por uma pergunta feita em uma parábola contada por Jesus: “Para quem ficará tudo que acumulaste?”. Quando o que se acumulou se resume a bens e dinheiro, a resposta é relativamente fácil. Dinheiro e bens são valores que se medem por meio de números. Sendo assim, basta dividir o montante pelo número de herdeiros definidos legalmente e dar a cada um a parte que lhe corresponde. Mas e as outras coisas que acumulei?

Jesus sabiamente comparou o corpo a um tesouro do qual cada um tira as coisas que ajuntou no decorrer de sua vida. Cada indivíduo tem um tesouro que é único, só seu. Portanto, no meu tesouro há uma quantidade enorme de coisas totalmente, ou, absolutamente, inúteis, que não têm valor algum no mercado. Muitos livros usados, rabiscados e empoeirados. Algumas fotografias que marcam momentos importantes em minha vida (em minha vida). Várias poesias rabiscadas em comandas de pedidos, dessas que garçons usam. Contos, recortes, cartas, enfim, memórias.

Parece estranho, mas o fato é que as memórias são também objetos que acumulamos em nossa caminhada existencial. Estão guardadas no nosso tesouro particular, às vezes secreto. Sinto a necessidade extrema de dá-las a alguém que tome conta delas. Aí me vem a aflição por escrever. Quando escrevo estou, à minha maneira, lutando contra a morte, não a morte literal, mas sim, buscando uma certa imortalidade. A imortalidade das minhas memórias. Pelejando bravamente contra a morte das coisas que o meu amor ajuntou e que vão se perder quando eu morrer.

Já dizia Alberto Caeiro: “Eu nunca guardei rebanhos, mas é como se os guardasse... Quando me sento a escrever versos..., sinto um cajado nas mãos..., olhando para o meu rebanho e vendo as minhas idéias, ou olhando para minhas idéias e vendo o meu rebanho.” Também me considero um guardador de rebanhos. Minhas ovelhas são minhas idéias, minhas memórias. Para quem ficarão minhas ovelhas quando eu partir? Quem cuidará delas com o mesmo amor que eu cuidei? É preciso encontrar alguém que as ame assim como eu as amei, que também tenha essa alma de pastor, que as chame pelo nome, que as conduza por pastos verdes e fontes de águas frescas, que as defenda dos lobos e as acaricie ao fim da tarde.

A pergunta me atravessa os pensamentos como lâmina afiadíssima: “O que acumulei numa vida inteira, para quem ficará?” “Quem cuidará do meu rebanho querido?”. Mas, talvez, esta seja uma pergunta impossível de ser respondida mesmo. Eu apenas alimentei a ilusão de ter possuído um rebanho, apenas tive a ilusão de acumular objetos, memórias, idéias. Esse rebanho nunca me pertenceu. É um grande rebanho que passeia pelos pastos do mundo, ovelhas à procura de quem cuide delas. Por um período estiveram sob meus cuidados. Eu as chamava pelo nome. Assim que eu me for, sairão por aí e provavelmente encontrarão outro pastor, que certamente saberá cuidar melhor delas do que eu mesmo cuidei. Farão delas ovelhas mais fortes, com o auxílio de outros pastores, modificarão as minhas ovelhas e logo elas se esquecerão de mim.

Minhas ovelhas jamais ficarão abandonadas. Mas alimento a esperança, novamente me entrego à ilusão, de que meu filho Jonas, ou o mais novo Cauã, serão esses pastores. E toda vez que eles virem uma de minhas ovelhas machucada, ou desgarrada do rebanho, a trarão de volta, tirarão os carrapatos e lembrarão-se do velho pastor que não deixou nada, a não ser, suas memórias escritas, mas escritas com amor.

Noreda Somu Tossan

sábado, 8 de outubro de 2011

Obrigado, Pastor Ricardo Gondim!

Por: Marcio Alves

Há pelos menos 3 ou 4 anos atrás, dava se inicio em minha vida o “processo de dês-religiosamento”.

Hoje, sentando nas escadarias da minha casa, olhando para o céu estrelado, pensando na vida, re-pensando e revendo passos, caminhos e descaminhos, estradas e trajetórias, pensamentos e sentimentos, crenças e crises, vitorias e perdas, valores e vazios, num encontro e desencontro comigo mesmo, tentava lembrar onde foi exatamente que isto tudo começou, qual foi o estopim que desencadeou e acelerou toda esta minha descrença e ceticismo de hoje.

Foi ai que lembrei.......

Lembrei e agradeci, com os olhos cheios de lágrimas e com a voz baixinha e embargada, aquela mesma que falamos conosco, que ninguém escuta, e sussurrei :

Obrigado, Pr. Ricardo Gondim. Lembrei que durante meses – seis á sete meses, há 4 anos atrás, para ser mais exato – devorei todos os textos que você escreveu em seu site, aproximadamente uns 1. 800. Alguns leves que abordam a beleza da vida, outros mais indigestos e duros questionando os dogmas pétreos da ortodoxia, mas todos me conduziram a tornar quem sou hoje.

Obrigado, Pr. Ricardo Gondim. Tudo bem que há mérito em mim também, que me esforcei e gastei meses, semanas, dias, horas, minutos e segundos debruçados na mesa de meu computador devorando seus escritos, que não apenas me influenciaram diretamente, como que também indiretamente, pois foi através destas leituras que apaixonei e até viciei compulsivamente em ler. Hoje, já faz um tempo que não leio mais você, é verdade, mais através de você, aprendi a ler e saborear outros diversos autores.

Obrigado, Pr. Ricardo Gondim. Hoje, minha capacidade de reflexão está muito mais aguçada, me tornei uma pessoa muito mais criteriosa, questionadora, que não aceita uma verdade simplesmente por ela ser verdade para o senso comum. Mas para que a verdade seja realmente verdade, ela deve ser antes passada e re-passada pelo moinho da duvida questionadora, e que depois de ser tanto duramente atacada, se ainda resistir é porque merece ser verdade.

Obrigado, Pr. Ricardo Gondim. Você me ensinou a pensar por mim mesmo, a não ser um mero escravo do sistema, em simplesmente repetir conceitos já há muito tempo engessados, a não temer o medo de dizer “tenho duvidas”! De olhar para dentro de mim e aceitar minhas imperfeições e ambigüidades como fazendo parte da minha natureza, a entender que não eram pecados, que não seria castigado por uma divindade que cobra desempenhos pra lá de humanos.

Obrigado, Pr. Ricardo Gondim. Durante muito tempo te segui, mas finalmente entendi que o melhor jeito de te seguir, é não te seguindo mais, para finalmente seguir os meus próprios passos, fazendo o meu próprio caminhar, e que fazendo isto, eu estaria seguindo você!

Obrigado, Pr. Ricardo Gondim. Hoje, já não creio mais em castigo eterno, nem em um céu como recompensa, descreio num Deus evangélico que é avesso a vida, avesso ao prazer, a alegria de viver. Já não consigo mais engolir uma divindade que favorece alguns poucos, atendendo a caprichos, enquanto deixa bilhões na mais profunda miséria sem nenhuma intervenção urgente de vida e morte.

Obrigado, Pr. Ricardo Gondim. Hoje, já não sou mais religioso, busco viver uma vida natural, sem as falsas promessas de que se fizer isto ou aquilo corretamente, terei o favor de Deus, nem tão pouco, vivo neuroticamente uma busca desenfreada por uma vida sobrenatural, de milagres e bênçãos.

Obrigado, Pr. Ricardo Gondim. Reconheço a imensa capacidade em mim de questionar e até para descrer, mas certamente talvez, não teria coragem ou demoraria muito, se não tivesse no meio do meu caminho conhecido e lido exaustivamente você. Talvez meu único lamento seja “porque não conheci você antes”, mas entendo que tudo que vivi em minha vida, toda minha experiência de mais de 15 anos na igreja, foram mais que necessárias para forjar meu caráter e ser decisivo na construção de quem sou hoje.

Obrigado, Pr. Ricardo Gondim. Aprendi contigo que para desconstruir a fé, é preciso usar a própria fé, que nunca uma cidade é atacada tão eficazmente quando é atacada de dentro para fora, que por mais fortes e hábeis que sejam os ataques externos, nunca surtirão os mesmos efeitos que de dentro.

Obrigado, Pr. Ricardo Gondim. Sei que você sabe a contribuição que você trouxe para o meio evangélico, benefícios para alguns, estragos para a maioria, é verdade, mas ainda sim uma mudança radical no modo de ver, ouvir, pensar e sentir dos evangélicos.

Obrigado, Pr. Ricardo Gondim. Sei que com sua idade – e você sabe também – sua morte iminente se aproxima cada dia mais – e de quem ela não se próxima também? Pois para morrer basta estar vivo! – e esta é a angustia de todos nós mortais; cada dia que se passa, significa que mais vivemos e que menos tempo temos para viver!

Mas você, Pr. Ricardo Gondim, já teve seu galardão antes mesmo de morrer: sabe que tens um nome que já entrou para os anais do cristianismo Brasileiro, que mesmo depois de sua morte, seu nome e seus conceitos continuarão a gritar nos ouvidos e mentes dos evangélicos: sua vida não foi como a da maioria; medíocre e insignificante, mas tua vida teve e sempre terá um peso, sendo lembrado por muito e muito tempo!

Mas o maior de todos os galardões é sem duvida alguma a de mudar vidas, transformando mentes, abrindo novos horizontes, revirando conceitos, salvando pessoas de uma vida ilusória, pobre e castradora que a religião oferece, dando maior sentido para o sentido de viver, sem medo, sem culpa, sem neuroses, sem mascaras, sem falso messianismo, sem falsa santidade.

Só nós e a vida, a vida e nós, e a consciência de um viver com significados, com maturidade, com responsabilidade.
Uma vida com vida, sem a morte-vida das religiões!

Obrigado, Pr. Ricardo Gondim!


Site do Pr. Ricardo Gondim: http://www.ricardogondim.com.br/

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Apenas um sorriso

Por Edson Moura

Um piloto de caça, durante o período da Segunda Guerra Mundial, foi capturado pelo inimigo após seu avião ser abatido e milagrosamente sair sem um aranhão. Foi lançado numa cela de prisão. Todos os carcereiros o olhavam com desdém e era tratado de forma rude pelos mesmos. Sua execução estava marcada para o dia seguinte à sua captura e pretendo contar á vocês leitores o incrível desfecho desta tragédia.

Ele tinha certeza que seria morto. Ficou terrivelmente perturbado e nervoso. Remexeu nos bolsos em busca de um cigarro que, “Deus quisera”, tivesse escapado à revista. Encontrou apenas um, mas como as mãos estavam trêmulas de medo, mal podia levá-lo aos lábios. O pânico se abateu quando ele percebeu que não tinha fósforos, estes foram levados na revista.

Olhou através das grades para o carcereiro. Ele não correspondeu ao olhar do rapaz condenado, afinal, não se estabelece contato com uma “coisa”, um cadáver. Ele então gritou para o homem: “Tem fogo, por favor?!”. O carcereiro olhou para ele, deu de ombros e caminhou até a direção do rapaz. Ao se aproximar e sacar uma caixinha de fósforos, os olhares dos dois inadvertidamente se cruzaram. Naquele momento o rapaz sorriu.

Nem ele mesmo sabe por que fez aquilo. Talvez por nervosismo, talvez porque, quando se está realmente perto de alguém, é muito difícil não sorrir. Em todo caso, ele sorriu. Naquele instante, foi como se uma faísca saltasse no espaço entre os corações dos dois homens, entre suas almas. Não foi proposital, mas o sorriso do rapaz “saltou” por entre as grades e gerou um sorriso nos lábios do carcereiro também. Ele acendeu o cigarro do rapaz, mas permaneceu por perto, olhando-o diretamente nos olhos e continuando a sorrir.

O Jovem rapaz continuou a sorrir, agora consciente da pessoa e não apenas do carcereiro que o mantinha preso. O olhar do carcereiro parecia também ter uma nova dimensão. Você tem filhos? Perguntou o carcereiro.

Sim, aqui, aqui! Disse o rapaz tirando a carteira e procurando nervosamente a fotografia de seus filhos e sua esposa. O Homem também puxou a fotos de seus garotos e começou a falar sobre seus planos para eles. Os olhos do rapaz encheram-se de lágrimas. Confidenciou ao carcereiro que temia nunca mais vê-los novamente, nunca ter a chance de vê-los crescer. Algo parecido com Lágrimas também aflorou nos olhos do carcereiro.

De repente, sem qualquer palavra, o homem destrancou a cela do rapaz e silenciosamente o conduziu para fora. Passou por corredores escuros e deu de cara com um pátio. O Jovem pensou: Minha vida foi salva por um sorriso, apenas um sorriso. Seu coração batia acelerado ao passo em que caminhava em direção à sua liberdade.

Deu mais alguns passos e olhou para trás, o carcereiro havia parado. Podia ouvir os passos dos soldados marchando em sua direção. Uma venda lhe foi oferecida, e, ao colocá-la, ouviu a voz do carcereiro:

Perdeu playboy, sua execução foi antecipada!

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Mudar pra quê?


Por Edson Moura

Medrios estava deitado de lado, super cansado, a uma pequena distancia do moinho. Apenas o som abafado de sua respiração ofegante quebrava o silêncio da manhã. Vagamente Medrios conseguia recordar da onda de adrenalina que há tanto tempo acompanhara seus primeiros passos enérgicos em direção à linha de chegada, que imaginava ele, estava logo à sua frente. Ele não conseguia mais se lembrar de quando de fato começara a correr, e nem o porquê estivera correndo. Fora tão excitante no começo, mas de repente, ao longo do trajeto, a euforia tinha sido substituída pela exaustão, e uma sensação de amortecimento acabara com toda a esperança: não existia uma linha de chegada.

Deitado ali sobre a palha úmida e com cheiro de urina, Medrios fechou os olhos e esperou que sua respiração lentamente voltasse ao normal. Nesse raro momento de inatividade, sentiu o cheiro da realidade do mundo à sua volta pela primeira vez em muito tempo. Perscrutou tudo aquilo em pensamento, mas apenas por um brevíssimo momento, pois o som que vinha do moinho chamou sua atenção, fazendo-o abrir os olhos. Virou a cabeça na direção do som e ainda pode ver o instante em que a imensa roda do moinho rangia enquanto parava.

Sentou- se vagarosamente e olhou para a máquina que tanto dominara a sua vida. Uma voz interior dizia: “Esse moinho está te matando Medrios”, era uma voz familiar que lhe falava lá do fundo do coração. “Não desperdice nem mais um momento nessa corrida”, insistia a voz enquanto ele bebia um grande gole de água fresca que havia na fonte ao seu lado. Devia haver mais coisas na vida do que a máquina oferecia. A água fresca lhe devolveu as forças e sua respiração já estava normal. Sentiu-se refrescado. Talvez pudesse começar uma vida nova, pensou. Talvez hoje mesmo! Mas como? O que poderia fazer a seguir? Pra onde iria? Que alvos buscaria? Já nem sei há quanto tempo minha vida está assim.

Bem, aquelas decisões poderiam ser tomadas mais tarde. No momento, Medrios sentia-se um pouco assustado com a perspectiva de mudanças. Até que pudesse elaborar os detalhes de sua nova empreitada, ficaria com o que lhe parecia conhecido, verdadeiro e seguro. Assim, ainda sonhando com as coisas que poderiam acontecer, inconscientemente subiu na roda do moinho pela milésima vez em sua efêmera vida. Não demorou muito para ouvir o zumbido hipnotizador do moinho ganhando velocidade e o reflexo da luz passando pelos raios da roda. A dor foi bloqueada. A angústia já não mais incomodava Medrios. A liberdade e a aventura poderiam esperar. Aquela roda não exigia riscos, nem raciocínio, nem pensamento. Poderia viver suas aventuras mais tarde. No momento, só era preciso correr.

Conto a história de Medrios apenas para traçar um paralelo com a vida de muitos homens e mulheres no século XXI. Vivem presos numa roda de monotonia e conformismo. Trancafiados em crenças e religiões de seus avós e dos avós de seus avós. Pessoas assim percebem apenas vislumbres das verdadeiras possibilidades e oportunidades que a vida tem para oferecer. Oportunidades essas que certamente serão perdidas, pois muitos vivem num circulo vicioso.

Manter a roda girando os deixa ocupados demais para planejar uma mudança significativa. Preferem continuar girando a roda que não leva a lugar nenhum. Mudar aquilo que sempre foi de determinado jeito é desafio para os bravos. Além do mais, traçar um novo rumo para um futuro desconhecido é assustador, e a vida rotineira, embora enfadonha, é muito mais segura.

Esqueci de dizer: Medrios é só o hamster de um garotinho que conheci.

Edson Moura

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Insight - Daniel de Carvalho Luz

Resumo do Livro:

Primoroso na seleção dos pensamentos e na abordagem de cada um, o autor buscou reunir temas que motivem as pessoas a ter atitudes positivas em todos os campos de sua vida.
Este livro contém 63 reflexões sobre sucesso, fracasso, família, qualidade de vida, ética, superação de desafios e muitos outros assuntos de aplicação prática no dia-a-dia. O autor trata cada assunto com seriedade e profundidade, motivando sempre o leitor a criar um estado de auto-reflexão, para encontrar em cada situação uma oportunidade de crescimento pessoal e profissional, sempre com atitudes criativas e vitoriosas.



Título: Livro - Insight


Páginas: 270


Edição: 3


Tipo de capa :BROCHURA


Ano: 1999

Assunto: Crenças-Auto-Ajuda

Idioma: Português

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

A primeira mentira sempre nos deixa a um passo da segunda

Por Edson Moura

Ser alguém, alguém importante, é o desejo de todo homem. Uma tarefa deveras difícil devo dizer, pois o mundo em que vivemos é tão competitivo que precisamos muitas vezes apelar para nossas imaginações, criando assim, uma personalidade que possivelmente nos baterá na face cedo ou tarde. É como um pai, desejando chamar a atenção de seu filho, inventa estórias para atraí-lo. Atitudes assim parecem ser tão inocentes, tão isentas de maldade, que não nos damos conta quando o abismo chamado mentira precipita a confiança que tínhamos de nossos filhos.

Transparência é a mais bela cor que nossos filhos devem ver em nossas performances. Me apavora pensar que meus filhos, por minha culpa, mintam para seus amigos dizendo que o pai dele é um dos maiores sommelieres de São Paulo, que atende celebridades em seu restaurante, e que as pessoas fazem fila para serem atendidas por ele. O choque para uma criança, que vê a verdade emergir em plena sala de aula, quando seus amiguinhos o desmascaram é massacrante.

A frustração se apossará de sua pequena alma. A decepção com a figura paterna demorará anos para passar, e talvez nunca passe. Imagino os filhos de muitos políticos que aparecem na mídia, com suas fotos estampadas na primeira página de jornais, escândalos de corrupção, crimes contra a sociedade, sociedade esta da qual fazem parte os pais dos colegas de escola. Quem poderá calcular o tamanho da vergonha que sentirão? Qual psicólogo vai conseguir devolver a esta criança a confiança em seu pai? Contará ele também mentiras? Possivelmente.

Um jogos de espelhos sem igual, isso é o que é. Às vezes somos enganados também, é sem querer passamos adiante algo que não é verdade. E como uma bola de neve que não para de crescer à medida em que desce a montanha, a estória viaja pelo mundo, pelo nosso pequeno mundinho. Já disseram que uma mentira dá a volta ao mundo mesmo antes de a verdade vestir os sapatos, e isto é uma verdade. Invariavelmente um dia a verdade aparecerá, e se isso não acontecer é porque o seu criador viveu intensamente tentando proteger daqui e dali seu conto. Uma vida de preocupação, um eterno caminhar em ovos, esquivando-se constantemente de situações que possam comprometê-lo.

Uma luta sem contra a famosíssima “Lei de Murph” . Este adágio popular da cultura ocidental que afirma que se alguma coisa pode dar errado, com certeza dará, ou, se há mais de uma maneira de se executar uma tarefa ou trabalho, e se uma dessas maneiras resultar em catástrofe ou em conseqüências indesejáveis, certamente essa será a maneira escolhida por alguém para executá-la. Ela é comumente citada (ou abreviada) por "Se algo pode dar errado, dará" ou ainda "Se algo pode dar errado, dará errado da pior maneira, no pior momento e de modo a causar o maior estrago possível". Assim, inutilmente, tentamos burlar os acontecimentos.

Portanto, o melhor a fazer é evitar os exageros. Não colocar glamour demais em “causos” que contamos, para que não caiamos na ingênua crença de que crimes perfeitos existam. Falem a verdade para seus filhos e amigos, mesmo que a verdade às vezes o coloque bem lá embaixo, e a admiração por você não seja a principal característica de seus companheiros. Fazendo isso, é bem possível que seja admirado um dia, principalmente quando seus filhos crescerem e entenderem que seu pai nunca foi bonito, rico, e importante, mas foi honesto consigo mesmo, sendo esta a única obrigação de um ser humano.

Um ótimo exemplo disso que vos escrevo está bem explicitado no filme “O resgate de um campeão”, estrelado por Josh hartnett e Samuel L. Jackson, baseado numa história real. Quem puder assistir, eu recomendo, é lindo o filme.

Edson Moura





sábado, 10 de setembro de 2011

Ficções - Jorge Luis Borges

Resumo do Livro:

Ficções reúne os contos publicados por Borges em 1941 sob o título de O jardim de veredas que se bifurcam (com exceção de "A aproximação a Almotásim", incorporado a outra obra) e outras dez narrativas com o subtítulo de Artifícios. Nesses textos, o leitor se defronta com um narrador inquisitivo que expõe, com elegância e economia de meios, de forma paradoxal e lapidar, suas conjecturas e perplexidades sobre o universo, retomando motivos recorrentes em seus poemas e ensaios desde o início de sua carreira: o tempo, a eternidade, o infinito.

Os enredos são como múltiplos labirintos e se desdobram num jogo infindável de espelhos, especulações e hipóteses, às vezes com a perícia de intrigas policiais e o gosto da aventura, para quase sempre desembocar na perplexidade metafísica. Chamam a atenção a frase enxuta, o poder de síntese e o rigor da construção, que tem algo da poesia e outro tanto da prosa filosófica, sem nunca perder o humor desconcertante.

Em Ficções estão alguns de seus textos mais famosos, como "Funes, o Memorioso", cujo protagonista tinha "mais lembranças do que terão tido todos os homens desde que o mundo é mundo"; "A biblioteca de Babel", em que o universo é equiparado a uma biblioteca eterna, infinita secreta e inútil; "Pierre Menard, autor do Quixote", cuja "admirável ambição era produzir páginas que coincidissem palavra por palavra e linha por linha com as de Miguel de Cervantes"; e "As ruínas circulares", em que o protagonista quer sonhar um homem "com integridade minuciosa e impô-lo à realidade e no final compreende que ele também era uma aparência, que outro o estava sonhando".

Sobre o Autor:
Jorge Francisco Isidoro Luis Borges Acevedo (Buenos Aires, 24 de agosto de 1899 — Genebra, 14 de junho de 1986) foi um escritor, poeta, tradutor, crítico literário e ensaísta argentino. Em 1914 sua família se mudou para Suíça, onde ele estudou e viajou para a Espanha. Em seu retorno à Argentina em 1921, Borges começou a publicar seus poemas e ensaios em revistas literárias surrealistas. Também trabalhou como bibliotecário e professor universitário público. Em 1955 foi nomeado diretor da Biblioteca Nacional da República Argentina e professor de literatura na Universidade de Buenos Aires. Em 1961, destacou-se no cenário internacional quando recebeu o primeiro prêmio internacional de editores, o Prêmio Formentor.
Seu trabalho foi traduzido e publicado extensamente no Estados Unidos e Europa. Borges era fluente em várias línguas.
Sua obra abrange o "caos que governa o mundo e o caráter de irrealidade em toda a literatura". Seus livros mais famosos, Ficciones (1944) e O Aleph (1949), são coletâneas de histórias curtas interligadas por temas comuns: sonhos, labirintos, bibliotecas, escritores fictícios e livros fictícios, religião, Deus. Seus trabalhos têm contribuído significativamente para o gênero da literatura fantástica. Estudiosos notaram que a progressiva cegueira de Borges ajudou-o a criar novos símbolos literários através da imaginação, já que "os poetas, como os cegos, podem ver no escuro". Os poemas de seu último período dialogam com vultos culturais como Spinoza, Luís de Camões e Virgílio.
Sua fama internacional foi consolidada na década de 1960, ajudado pelo "boom latino-americano" e o sucesso de Cem Anos de Solidão de Gabriel García Márquez. Para homenagear Borges, em O Nome da Rosa, um romance de Umberto Eco, há o personagem Jorge de Burgos, que além da semelhança no nome é cego assim como Borges, foi ficando ao longo da vida. Além da personagem, a biblioteca que serve como plano de fundo do livro é inspirada no conto de Borges A Biblioteca de Babel (Uma biblioteca universal e infinita que abrange todos os livros do mundo).










Título: Ficções

ISBN: 9788535911237

Páginas: 176

Edição: 7ª

Tipo de capa: BROCHURA

Editora: Companhia das Letras


Ano: 2007

Assunto: Literatura Estrangeira-Contos E Cronicas

Idioma: Português


Onde comprei: Red Star

domingo, 4 de setembro de 2011

A importância do outro (humano) e a “des-importância” do Outro (Deus)

Por: Marcio Alves


Deus não existe! Qual o sentido de viver a vida, se Deus não existe? Vale apena continuar vivo então? Porque os ateus não se matam de uma vez, se não existe vida após a morte?

A primeira idéia que nos vem à cabeça, diante de tal pergunta é que a vida não tem mais sentido e graça para quem não acredita mais em Deus...será?

Deus não existe, mas a menina que o jovem esta de olho há um bom tempo existe...o filho do ex-religioso continua a existir mesmo sem Deus....os amigos do tempo das baladas, dos botecos da vida, dos jogos de futebol, das aventuras, e todas essas coisas aparentemente sem importância também existem, sem contar nos escritores de livros que nos levam a viver aventuras fantásticas, pelo mundo da imaginação. E os atores, atrizes e diretores de filmes e novelas prediletos nossos? Os cantores, bandas e compositores que fazem nossa alegria e nos dão prazer com suas canções?
Todos eles sem exceção existiram ou existem e fazem a diferença em nossa vida.

Por isso que Deus mesmo não existindo, nossa vida não deixa de existir, ela continua e o tempo não para, nem as coisas de que mais gostamos de fazer perdem o seu significado, mas justamente ao contrário!
A vida passa a ter mais sabor, sentido e valor, pois passamos a enxerga-lá como única e muito breve – e realmente é!

Por isso que a resposta a pergunta: “Porque os ateus não se matam de uma vez, se não existe vida após a morte?” traz em si mesmo a resposta: justamente por não ter vida após a morte, a vida tem maior valor para nós, pois ela é única e tem prazo de validade!

Agora que tal revertermos a pergunta, e direcionarmos para o crente da seguinte forma: Porque você crente, vive esta vida aqui tão apegado a ela, se existe a eternidade pela frente?

Mas não para por ai, porque o outro passa a ter mais importância e referencia em nossa vida quando não mais cremos em Deus.
Pois imagine a mulher crente tendo que deixar o seu marido ateu em casa ou no bar com os seus amigos e “amigas” para ir á igreja se santificar e buscar a Deus.

Agora pense nesta mesma mulher deixando de acreditar em Deus, e vivendo sua vida para si mesmo e seu esposo...ela irá passar mais tempo com ele, indo inclusive para o bar ou festas com ele, e o esposo incrédulo não precisará mais ter a atenção de sua mulher divida com o todo-poderoso – que se diga de passagem é uma competição injusta dado o “peso” de Deus para quem acredita e vive para ele!

Talvez você meu caro leitor religioso, não parou para pensar na fundamental importância do outro em sua vida, porque se seu amigão é Deus, o dono do universo, que te ama com um amor desumano (“que nem um ser humano é capaz de amar com tal intensidade”) e te protege e ajuda, para que então você iria ficar tão dependente de seus amiguinhos humanos?

É por isso que a primeira coisa que o crente faz quando se converte para “Deus” é abandonar os seus velhos amigos “mundanos”, “filhos da ira e do diabo”, os “perdidos e incrédulos”, “ímpios e perversos”, pois afinal, luz não combina com as trevas, e nem inferno com o céu, não é verdade, meu amigo crente e servo do altíssimo? (que no fundo enxerga todos os não cristãos – e ai não importa se o cara é ateu ou de outra religião – como inimigo a ser ganho do reino das trevas para o reino dos céus)

Mas repare também, que a primeira coisa que o crente faz quando desvia do caminho do senhor, é procurar os velhos amigos e reviver com eles tudo que a religião o privou....não é irônico que os “filhos das trevas” voltam a ser importante para os crentes desviados?

É que indiscutivelmente precisamos da relação eu-tu e tu-eu, pois neste sentido ninguém é uma ilha, tanto é verdade isto, que ninguém ama a si mesmo a tal ponto de ser auto-suficiente de não precisar do outro, pois todas as nossas fantasias e desejos têm sempre o outro como participante, ou você meu caro crente “fiel” e temente a Deus, vai dizer que quando se masturba, se masturba pensando só em si mesmo ou na placa de um carro? (ah na verdade você vai me dizer que não se masturba, pois masturbação é pecado, e como você orou e jejuou muito a Deus, ele tirou de você o desejo humanamente humano de transar, não é verdade?)

Deus não existe! Mas o mundo existe! A vida existe! O prazer existe! O sentido e o significado existem! E o mais importante: você existe! Pelo menos por enquanto, até quando em você houver respiração.....então faça valer a pena, deixando de ser escravo e mande Deus, crença, religião para o “diabo que os carregue”! (Risos não..gargalhadas hahahaha)


P.S: Este meu texto foi inspirado em algumas frases também de minha autoria no facebook no link: http://www.facebook.com/profile.php?id=100002460045319




quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Invenções


O homem na busca pela comunicação inventou a escrita, entalhou em pedra, utilizou penas e finalmente veio a caneta esferográfica, e fazendo uso das vinte e três letras que também inventou, escreveu lindas histórias, deixou para sua descendência registros importantíssimos e o melhor...belos poemas.

O homem, este ser pensante, não se cansou de buscar soluções para as dificuldades, ele queria a paz, mesmo que esta fosse imposta de formas violentas, pesquisou, estudou e finalmente inventou a bomba atômica. E com aviões também inventados pelo homem, despejou sua carga letal sobre duas cidades, e assim, dizimou inocentes.

O homem ao tentar facilitar seu trabalho inventou a roda, a mãe de todas as invenções. E com essas mesmas rodas inventadas por ele, não hesitou em atropelar todo aquele que se colocou em seu caminho. Passou por cima daqueles que ousaram protestar contra as injustiças cometidas por tiranos.

O homem, apenas com três cores primárias inventou todas as outras, e com todas essas cores ele pintou belíssimos quadros, revelando assim o talento do homem para o belo. Mas com projéteis também criados pelo homem, ele manchou com o vermelho-sangue as páginas de sua história.

O homem acidentalmente descobriu a penicilina, revolucionando assim os tratamentos infecciosos, salvando milhares, aliás, milhões de vidas. O homem descobriu a cura para as doenças mais agressivas que já acometeram o humano. É penoso saber que estas mesmas doenças são mantidas vivas em laboratórios, apenas para, quando necessário ou conveniente, usá-las como armas de destruição em massa.

O espírito desbravador do homem o levou aos lugares mais longínquos. Descobriu continentes perdidos, desbravou terras inóspitas, habitou em lugares gélidos. Este mesmo espírito desbravador o fez destruir povos, massacrar civilizações inteiras, destruir costumes e impor suas crenças.

O homem aprendeu a manipular os elementos, todos os cento e dezesseis. Aprendeu antes disto a manipular o fogo. Usou a força da natureza a seu favor, construindo barragens e produzindo energia limpa. Com esse conhecimento ele inventou o Napalm, usou a pólvora não só para colorir o céu em épocas festivas, desenvolveu o C4 e tantas outras armas, possibilitando assim a destruição de seus iguais.

O homem inteligente inventou deuses. Matou por eles. Acabou também achando útil a criação de demônios. Semeou o terror entre os irmãos. Invenções tão importantes que hoje não consegue livrar-se delas. É considerado burro se apenas tentar destruir aquilo que por milênios fez parte de sua história.

Três cores e todas as demais. Vinte e três letras e todas as poesias do mundo. Dez números e todas as equações possíveis. Cento e dezesseis elementos químicos e todas as construções. O homem não para de descobrir, de inventar, de dar vida a idéias que jamais foram cogitadas. Ainda assim ele nos surpreenderá com uma nova invenção amanhã, algo que ninguém jamais pensou. O terror se apossa de mim ao imaginar o que ele poderá fazer com o que pode descobrir.

Assim é o homem. Um ser totalmente capaz de melhorar o mundo em que vive. Um animal agraciado pela natureza com a capacidade de criar. Mas com uma enorme inclinação para a autodestruição.

Edson Moura

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Quando Nietzsche chorou - Irvin D. Yalom

Resumo do livro:

No último quarto do séc. XIX em Veneza, no café Sorrento, tem lugar um encontro entre o médico austríaco, Josef Breuer e a insinuante jovem russa Lou Salomé, que promoveu uma série de outros encontros entre aquele e Friederich Nietzsche.

Explicadas as motivações tecidas à volta de um triângulo amoroso entre si, Paul Reé e Nietzsche, e porque a humanidade não poderia arriscar-se a perder o seu mais proemitente filósofo, Lou materializa a primeira entrevista deste com Breuer, por intermédio do amigo comum Overbeck, com vista à descoberta da origem do mal, que vinha atacando o filósofo, o qual, é mantido na ignorância desta sua diligência, por aquela saber o que este pensa das ajudas desinteressadas.

Horas de intensa observação deram a conhecer a Breuer a personalidade obstinada e orgulhosa de Nietzsche. Como tratar alguém que recusa ajuda? Porque recusa?

Frustrado o acordo para o tratamento, despediram-se friamente. Mas uma recaída do filósofo retoma o contato com Breuer que lhe ouve, em estado quase comatoso um inesperado mas inconsciente pedido de ajuda. Aberta a brecha, Breuer avança, decidido a fazer Nietzsche ceder às suas tentativas de penetração na sua, até então, inviolável psique. Mantinha-se, no entanto, inexpugnável o filósofo a quaisquer intromissões na sua fortaleza interior. Sucedem-se diálogos de prospecção psíquica, tão duros como inteligentes que os conduzem a um acordo peculiar.

Assentam, então num tratamento recíproco. Breuer, autor da iniciativa, aceita como clínico tentar debelar as enxaquecas de Nietzsche, e este como médico da mente, aceita tratar Breuer. Homem realizado na sociedade vienense, pela excelência da sua ciência e do seu profissionalismo, Breuer conquistou a fama pela descoberta da importância do ouvido interno para o equilíbrio.

Tendo aplicado o mesmerismo a Bertha, uma jovem lindíssima, sua paciente, com uma grave histeria, criou problemas pelo tempo passado junto da doente, que fizeram nascer em Mathilde, sua esposa, ciúmes inconvenientes. A passar dos quarenta anos, Breuer pergunta-se se era aquilo por que tinha lutado. Um sonho que recorrentemente o perseguia, e de que já havia falado com o seu amigo Freud, curioso destas fitas cerebrais, piora a situação pelo que poderia significar. Mas com Bertha afastada da sua vida Breuer sente começar a descer para um subterrâneo desconhecido.

A argúcia argumentativa de Nietzsche, calça botas de soldado com que lhe pisa a estrutura familiar laboriosamente construída. E confronta-o, sem piedade, com a paternidade das escolhas assumidas. Então compreende! Não havia sido Breuer a escolher o seu caminho. Sempre na esteira dos outros. A carreira, os amigos, o bem-estar, a mulher tinham-no moldado aos seus interesses. A sua genuinidade dormia sob o anestésico da sociedade. Sentiu um ferrão a rasgar o tórax. As escolhas não tinham sido suas. Foram eles que lhe apontaram os caminhos. Como a um cavalo condicionado por antolhos. E de repente tudo se desmorona.

Nietzsche médico das almas, cruel cirurgião da mente, tendo penetrado nos labirínticos meandros da psique de Breuer, desperta-lhe a força da idiossincrasia própria de um ser irrepetível e único, pelo que começa a sentir-se como o caçador caçado. Equipado com as armas necessárias à superação de si, Nietzsche encaminha Breuer para um exercício de auto-consciência, o qual, induzido por hipnose pelo seu amigo Freud, consegue figurar Bertha, na intimidade com um outro clínico, dessacralizando assim momentos considerados como possíveis unicamente consigo. Imagina-se, então, profundamente ridículo. A catarse funcionou. Breuer recuperou-se e tornando-se naquilo que é assumiu-se como autor do seu futuro. Sorridente, afirma-se curado para desgosto de Nietzsche que assim perde mais um amigo.

Nietzsche, a maior parte do ano doente, acometido por doenças do foro psiquiátrico acompanhadas de graves manifestações somáticas, era um homem deprimido. A atravessar desertos de solidão. Uma solidão altiva, desejada, própria dos fortes. A sua imaginação febril, afectada pelo rompimento com Wagner, ficou fundamente abalada com as notícias da irmã Elizabeth sobre o que Lou fazia correr sobre ele na sociedade. A traição de novo a corroer-lhe as entranhas. Está condenado a viver só com o seu mal. Longe do mundo e dos homens. Voltaria a galgar o alto Engadine de onde administraria na companhia da sua querida e orgulhosa dor o vasto e exclusivo império do seu EU, tanto mais robusto quanto mais sofrido.

Breuer sarado tinha de se ir embora. É quando se apercebe da íntima tristeza com que Nietzsche saudou a sua cura, e lembrando-se do pedido de ajuda, resolve fazer xeque mate ao mal do, agora, seu amigo. Sempre vencido nos diálogos mantidos com ele, não podia dispersar esta oportunidade única. Tal mostra de fragilidade seria a salvação dele. E sua também. Como clínico. Como amigo.

Se consigo Bertha foi a um tempo a origem da sua angústia, não teve dúvidas em eleger Lou Salomé como uma das grandes causadoras dos pesadelos, insônias e aflições de Nietzsche. Que finalmente se abre e denuncia um coração dilacerado, ao saber que aquela havia produzido, com ele Breuer, o mesmo comportamento insinuantemente provocador tal como, com ele, Nietzsche, que se julgava, no recesso do seu individualismo, senhor absoluto dos mimos de Lou Salomé.

Chamando então a si Freud e toda a sua ciência, a par de tudo o que com o filósofo aprendera, Breuer, impiedoso, perscruta aquele coração, libertando-o da solidão auto imposta, como sobrevivência num mundo imperfeito. Com a certeza e segurança da amizade entretecida na cumplicidade da dor, diluída pelo abraço que acede ao humano, demasiado humano. E que se torna menos mau sempre que um homem chora.

Editora: Ediouro
Pág. 407
Edição: 14ª
Autor: Irvin D. Yalom
Ano: 1992


Edson Moura

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Crime e Castigo - Fiódor Dostoiésvski


Resumo do livro:

Se você não leu, certamente já ouviu falar. Crime e Castigo, do russo Fiódor Mikháilovitch Dostoiésvski, foi publicado pela primeira vez em 1866 e foi o primeiro romance do autor traduzido para línguas da Europa Ocidental.

O livro relata a angústia e o sofrimento vividos por Ródion Románovitch Raskólnikov, um jovem estudante de direito que se vê marginalizado pela falta de dinheiro. Após ter cometido o assassinato de duas mulheres: Alena Ivánovna, uma velha usurária, a quem Raskólnikov empenhava alguns objetos para obter dinheiro para sua sobrevivência e Isabel Ivánovna, irmã da usurária, também assassinada, por estar no lugar e hora erradas.

A história, que se faz interessante já pela originalidade seu enredo central, é uma das obras mais importantes da literatura mundial por ser um verdadeiro ensaio psicológico das personagens, uma qualidade ímpar dos escritores russos.
A trama, à primeira vista, é um romance policial: descobrir um assassino. Assassino esse que está revelado ao leitor desde o início. Seria um romance policial comum se a narrativa não se fizesse transcorrer numa teia envolvente de personagens e tramas paralelas capazes de prender o leitor não mais para a resolução do caso, mas para a resolução dos dramas humanos que o autor propõe.

Sem dúvida, trata-se de uma história única capaz de produzir sentimentos diversos e intensos para quem a lê. E se você ainda não está convencido sobre a importância deste livro basta dizer que Crime e Castigo é considerado por muitos, e importantes críticos literatos, como o grande romance de todos os tempos.

Então, meu amigo, se você ainda não leu, trate de sair da frente deste computador e corra a uma livraria, sebo ou até mesmo para a coleção de livros velhos e empoeirados do vovô e extasie-se pela trilha intrincada de ações e sentimentos que é você: ser humano.

Edson Moura

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Justiça e Perdão


Outro dia um amigo emprestou-me um filme muito interessante que tinha como tema a vingança.Tudo bem que a produção era daquelas baratas, mas ao final dele, fiquei pensativo a respeito do tema. A história era de uma escritora que ao isolar-se em uma cidadezinha para escrever mais um de seus romances, acabou sendo violentada por quatro jovens e até pelo xerife da cidade. Após sobreviver ao ataque, ela retorna para vingar-se, coisa que faz com requintes de crueldade. Entre cortar pênis, e introduzir espingardas em ânus, ou afogar um deles em soda cáustica ela se satisfaz e sente-se bem com a sensação de dever cumprido.

O interessante é que logo pela manhã eu presenciei uma cena que me remeteu ao filme. Um rapaz muito mal educado começou a agredir verbalmente o motorista do ônibus. Chamou-o de chifrudo, velho lerdo, “viado”, e outros adjetivos que julgo desnecessário citar aqui. O motorista aceitou àquelas provocações como um perfeito cavalheiro. Pensei comigo: ele deve ser um daqueles crentes que aceitam tudo calado, pois o Senhor é seu juiz. Eu particularmente já estava “espumando de raiva”, mas me controlava, afinal de contas, eu também aprendi que não se deve pagar o mal com mal.

Ao chegarmos na av. Cidade Jardim, um dos pontos mais lotados da zona leste de São Paulo, fui surpreendido com a atitude do motorista. Ele arrastava o ônibus bem devagarinho, ao tempo em que ia chamando o rapaz de corno, dizendo que a cara dele era de chifrudo, que a mulher dele provavelmente estaria dando pra outro enquanto ele saía pra trabalhar. Chamava-o de “pião”, dizia que enquanto ele (o rapaz) pegava um ônibus lotado para chegar ao trabalho, seu carro zero estava estacionado na garagem da empresa. Acreditem, cheguei a sentir uma pontinha de pena do jovem (mas passou rápido). O motorista foi cruel em sua vingança. Premeditou tudo e foi muito feliz em sua desforra.

Pergunto-me: estaria certo o motorista ao buscar justiça? A atitude dele pode ser recriminada, tendo em vista que devemos evitar discussões nos dias atuais? Ou será que ele deveria ter ido além e ter dado uma boa de uma surra naquele jovem desaforado? Bom, particularmente acho que ele deveria sim, ter descido do ônibus e socado aquele rapaz, só para ele aprender a respeitar aos mais velhos. Só assim o motorista conseguiria se impor frente ao seu adversário. A coragem de enfrentar as dificuldades e a busca por justiça não são qualidades apreciadas por Deus? Não! Este é discurso islâmico.

É evidente que o discurso islâmico de posiciona contrário ao discurso cristão. Enquanto para o Islã o “pecado” precisa ter uma punição do mesmo peso e natureza, no cristianismo, a orientação é desconsiderar a injustiça cometida. Jesus delega a Deus a função de fazer justiça e obriga o injustiçado a perdoar aquele que o injustiçara. (..e perdoai [Deus] as nossas dividas [injustiças, pecados], assim como nós perdoamos nossos devedores Mt 6:12). Ao relembrar o episódio no ônibus, não consigo evitar a frase que me vêm à mente: “Eu, porém, vos digo que não resistais ao mal, mas, se alguém lhe bater na face direita, oferece-lhe também a outra”.

Depois de muito refletir, cheguei à conclusão de que “perdão e justiça” são valores éticos inconciliáveis, antagônicos, impraticáveis dentro de um mesmo contexto. O mesmo se dá aos valores “igualdade e liberdade”, ou seja, para se obter um estado de igualdade de condições e de oportunidade entre pessoas de um mesmo grupo ou sociedade, é preciso sacrificar a liberdade de se fazer o que deseja. Em grupos e sociedades liberais, como a sociedade de mercado, por exemplo, a liberdade de agir é a mola propulsora do progresso, mas, a desigualdade social acaba sendo um efeito colateral aceitável. O lema da revolução francesa até que soa bonito... “Liberdade e Igualdade”... mas, é totalmente impraticável.

É preciso fazer valer os nossos direitos, e quando esses direitos nos pedem para reagirmos a uma agressão com outra agressão, por que não? Poxa vida! Até quando viveremos na mediocridade? Até quando seremos capachos de nossos detratores, só porque Jesus falou que assim deveria ser? A morte de Jesus e de Pedro na cruz, sem que ambos reagissem contra seus inimigos, nos mostra o extremo da passividade e da tolerância em relação à injustiça. Provavelmente o conflito entre justiça e perdão seja o causador do grande mal-estar nas sociedades de orientação cristã.

O “bom religioso”, obediente às leis bíblicas e civis, vive em sociedade sendo explorado pelo seu patrão capitalista, pelo banco que lhe empresta dinheiro a 13% ao mês enquanto só paga 0,5% na poupança, pelos políticos que lhe tomam dinheiro com os impostos e não lhe devolvem em saúde, educação e segurança e transporte descente conforme nos é garantido pela Constituição, entre outras impunidades para as quais não tomamos atitude em nome do perdão que está arraigado em nossos subconscientes. Nossa ira inconsciente gerada pelo desejo voraz de justiça esbarra em uma orientação moral, da qual muitas vezes não temos consciência, que nos impede de tomar uma atitude.

Não me envergonho de escrever essas coisas, mas me envergonho por ter permanecido passivo por tanto tempo, estóico, contente com as agruras, e feliz por saber que um dia Deus me acolheria e todo sofrimento então teria fim. Quanto tempo eu perdi, e quantas lágrimas minhas poderia ter evitado se tivesse provado o sabor incomensurável da “doce vingança”.

Edson Moura



sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Dias de Perdão - Michael Gregório

Sinopse do Livro:

Na Prússia conquistada pelos franceses, o jugo da mão de Napoleão Bonaparte impõe medo e repressão na população. Nesse cenário, o renomado magistrado Hanno Stiffenis é intimado a acompanhar alguns soldados franceses que inesperadamente batem a sua porta. De imediato o procurador pensa o pior: era de conhecimento de todos que muitas dessas visitas resultaram no desaparecimento sem explicação de várias pessoas por serem consideradas opositoras aos estrangeiros.

Hanno era conhecido pela sua proximidade com um dos maiores personagens do país, o filósofo Immanuel Kant, que lhe ajudou a solucionar uma série de assassinatos na capital Könisberg.

Seria possível que aquela amizade o levaria à prisão ou pior, a morte?

No livro Dias de Perdão, segundo volume da série que apresenta Hanno Stiffenis como um detetive de casos misteriosos, o autor Michael Gregorio continua compondo um ótimo romance histórico misturando com maestria mistério e investigação, como Arthur Conan Doyle fez com o seu Sherlock Holmes. No primeiro livro, Crítica da Razão Criminosa, Stiffenis e o célebre pensador Kant se unem para desvendar uma série de assassinatos sem explicação.

Agora no recém-lançado Dias de Perdão aborda a Prùssia conquistada por Bonaparte em 1807 e os temores de muitos dos seus habitantes. Hanno, contudo descobre aliviado que a convocação foi feita pelo coronel do exército Francês Serge Lavedrine, para desvendar um novo caso: solucionar o assassinato de três crianças, encontradas mutiladas em uma casa afastada da cidade de Lotingen e o desaparecimento de sua mãe. Laverdrine, um criminologista muito interessado nas palavras e estudos que Kant deixou sobre a natureza do crime, queria ver como Hanno sairia na investigação sob a pressão do governo da Prússia, de alguns rebeldes, do próprio invasor francês e do anti-semitismo vigente na época.

Michael Gregorio, ou melhor a dupla Michael G. Jacob e Daniela De Gregorio recriam com bastante atenção no cenário histórico um thriller que seguirá o sucesso do livro anterior. A paisagem sombria das florestas e das cidades congeladas durante o inverno de 1807 é retratada com vigor, além de também abordar com uma pena hábil temas como o crescente nacionalismo, o anti-semitismo, a emancipação judia e a emergência das ciências, tudo isso, entrelaçado com a investigação que Hanno e Lavedrine fazem para o mistério da morte das crianças.

Hanno irá procurá Bruno Gottewald, o pai dos garotos, deixando com muito receio sua esposa e seus dois filhos, ante o ambiente terrível que sua cidade passava. Bruno, está servindo o exército da Prússia numa fortaleza bem afastada, comandada pelo fanático general nacionalista Katowice. No local, descobre que o major foi assassinado misteriosamente em um exercício de treino.

Em seu retorno à Lotingen, um cadáver de uma mulher é encontrado esmagado em um armazém, Hanno logo descobre que é a esposa do major morto e o mistério aumenta, em poucas semanas, uma família prussiana foi eliminada. O que estaria acontecendo? Seria um ato francês para aumentar seu poder? Ou seria a culpa dos judeus? Ou ainda, uma trágica coincidência? Narrado em primeira pessoa, pelo protagonista da narrativa, Dias de perdão segue e desenvoltura do primeiro, mergulhando o leitor no ambiente da época, com as problemáticas da população, de seus governantes e dos invasores estrangeiros.

Uma leitura envolvente do início ao fim, o "autor" cria mais uma vez a atmosfera histórica em conjunto com a exploração de técnicas de investigação criminal para montar um ótimo romance histórico. 

Edson Moura

Crítica da Razão Criminosa - Michael Gregório


Em 1804, enquanto as tropas napoleônicas rondavam as fronteiras da Prússia, ameaçando uma invasão, uma série de estranhos assassinatos atormentava a capital do reino germânico, Konisgsberg. O magistrado Hanno Stiffeniis é convocado para investigar os crimes, por ordem do próprio rei.

O jovem agente judiciário sai da pequena Lotingen, na fronteira com a Polônia, onde reside com a família e se refugiava de um passado turbulento. Viajando para a famosa cidade das Sete Pontes, descobre que quem o indicou para o sinistro caso fora o filho mais famoso da cidade, e certamente também de toda a Alemanha: o filosofo Immanuel Kant.

O professor de filosofia Michael Gregorio com esse enredo, estréia com, "Crítica da Razão Criminosa" (tradução Liliana da Silva Lopes, 464págs, Planeta), um thriller de mistério, onde confronta a razão filosófica e a ira criminosa, a ciência e a superstição, a investigação cientifica e a revelação espiritual cabendo ao leitor uma narrativa precisa e surpreendente que coloca em choque dois condicionadores do comportamento humano, o bom senso racional e a fé supersticiosa.

Um ótimo romance histórico, que abre uma nova série, ambientada na antiga Prússia e protagonizada pelo magistrado burguês Hanno Stiffeniis. Em seu primeiro caso, Stiffeniis tentará a luz da lógica achar o responsável pelos assassinatos em série.Trabalhando sob a vigilante e perspicaz supervisão de Kant, cuja fria racionalidade e ânsia de conhecimento ocultam um caráter inquietante. Com um passado que lhe persegue, o magistrado influenciou o grande pensador sete anos antes em um novo trabalho, um trato obscuro sobre a mente doentia de um assassino.

Immanuel Kant, célebre no mundo todo por suas publicações filosóficas, entre as quais, "Crítica da Razão Pura", possivelmente o livro mais influente da moderna filosofia. Vivia em uma casa nos arredores da capital prussiana, uma velhice sem notoriedade, pelo menos era o que se acreditava. Ainda era bem respeitado, por seu notável raciocínio, pela regularidade de seus hábitos, o temperamento severo e a impecável elegância. Kant, cujo vasto conjunto de idéias fora atacado pelas marés do romantismo, e logo a seguir pelo tsunami de Hegel, analisava o comportamento humano distinguindo o conhecimento sensível (que abrange as instituições sensíveis) e o conhecimento inteligível (que trata das idéias metafísicas). Stifffeniis usa essa Razão para investigar quatro estranhas mortes aparentemente sem solução, esforçando-se para ligar as peças daquele quebra-cabeça, apesar da supersticiosa população e inércia do trabalho dos policiais que conduziram as investigações.

Michael Gregorio desenvolve com habilidade a psique de cada personagem, fazendo uma história que envolve prostitutas, curandeiras, negromantes que asseguram falar com os mortos, pietistas em sua luta contra as tentações demoníacas, simpatizantes de Napoleão Bonaparte e os austeros e ineptos policiais prussianos. Brilhante concepção para a participação de Kant no thriller, como mentor do magistrado, aquém dirigirá na resolução dos casos. Como um Holmes e seu Dr. Watson.

Acompanhe neste Crítica da razão criminosa as investigações do jovem magistrado Hanno Stiffeniis, um dos poucos que conversou com Kant sobre as páginas secretas. O escritor Michael Gregorio construiu uma trama apaixonante, na qual razão e superstição combinam-se de uma forma assustadora.

Você irá se surpreender com o desfecho que Michael Gregória dá à trama. Passará então a amar e por muitas vezes, odiar as atitudes do homem para favorecer ou, proteger a memória daqueles que admiramos.
  • Editora: Planeta do Brasil

  • Autor: MICHAEL GREGORIO

  • ISBN: 8576652218

  • Origem: Nacional

  • Ano: 2006

  • Edição: 1

  • Número de páginas: 464

  • Acabamento: Brochura

  • Formato: Médio