segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Deus não existe!

Procure entender o pensamento de um existencialista ateu. Ele tenta dizer que Deus não existe e que existe apenas um ser cuja existência precede a essência, a saber...o homem. Como diria Dostoievsk: “Se Deus não existisse tudo seria permitido”. O homem “abandonado” e “sozinho” no mundo, sem um criador no qual possa se amparar é o seu próprio criador. O homem é o que é. Ele se constrói a partir do nada e por isso vive de angústias, de náuseas, como diria Sartre. “Tentando ser”, o homem depara-se com o desejo de ser Deus e com a angústia de jamais poder sê-lo. 

A ideia de Deus para o homem é de onipotência e onisciência, e o desejo de sê-lo representa ser e compreender tudo, não sofrer limites e condicionamentos, realizar-se em todos os sentidos possíveis. Mas Deus não resolve nada. Esta é a base de todo ateísmo sartreano. Ele julgava que Deus não ajudava ou colaborava com as realizações ou problemas humanos, porque toda e qualquer experiência que o homem realiza, seja ela boa ou má, quer o leve ao prazer...à angústia ou até mesmo à náusea, é de sua inteira responsabilidade. O homem é só e, como tal, é responsável por tudo o que fizer, pois o nada de onde vem o persegue por toda a “eternidade”. 

Em determinado momento da minha vida eu tive a necessidade de Deus, ele me foi dado, e eu o recebi sem compreender na verdade o que procurava. Mas este Deus por não ter raízes em meu coração, vegetou em mim durante um período de tempo...mas logo morreu. Posso comparar “fé” com “necessidade”, pois na minha concepção, são termos similares. O homem sente a necessidade de encontrar um sentido para vida, pois, nascido sem razão ou com um propósito pré-determinado, descobre-se como angústia. Essa necessidade se reflete na crença. 

Ter fé em Deus é o mesmo que alienar-se diante de sua própria liberdade. O absurdo do mundo é absoluto devido a sua constante possibilidade. Tudo é gratuito. A vida humana não possui sentido e, para superar esta faceta da existência, o homem inventa Deus. Entretanto, cabe ao homem dar sentido a sua própria vida. Ora, acreditar que a vida humana tem um sentido dado por Deus, não passa de uma grande ilusão. A única coisa que a vida dá ao homem é a sua liberdade de poder escolher fazer dela o que bem quiser. Se Deus não existe, cabe ao homem decidir, sozinho, o melhor caminho para suas escolhas, que conseqüentemente determinarão sua vida e sua essência. 

Também critico o conceito de Deus que é propagado, pois o descrevem como uma entidade inteligível, mas que não pode ser compreendida. A única prova que temos da existência de Deus é a fé, e isso eu também critico. Pelo menos uma evidência, deveria ser critério fundamental de inteligibilidade, mas como não há provas ou evidências, acredito ser impossível aceitar a existência de Deus. O conceito de Deus criado pelo homem une todos os desejos que o homem deseja para si. O que o homem chama de Deus, nada mais é do que a sua aspiração, o seu próprio projeto supremo de vida, todas as ideias que o homem deseja para si e que sabe que jamais conquistará, porque por mais livre e capaz que seja, ele possui limites impostos pela natureza. A religião, assim como a superstição, anula a liberdade humana. 

O povo, sob o comando de Deus, é servil e escravo...sem vontade e amedrontado. Para que de fato o homem possa “viver”, Deus precisa desaparecer. “Se Deus existe, o homem é um nada, mas se o homem existe...então...Deus não existe”. Se o homem se considera livre, e pretende manter essa sua liberdade, ele deve escapar e se distanciar de Deus. O homem deve escolher a si mesmo e, consequentemente, amar a humanidade em oposição ao amor de Deu.

Se Deus não existe não há imposição de valores, não há firmamento nem moral por fundamento. Cabe ao home “re-significar” a ética a cada instante, “re-significar” cada valor sem refugiar-se em justificativas ou desculpas, pois está sozinho no mundo junto com outros seres tão mortais quanto ele. O homem só desenvolve uma relação consigo mesmo quando elimina Deus de sua vida, pois passa a ter uma relação direta com o mundo, e não com “algo transcendental”. É como disse Fauerbach: “Deus não cria o homem, é o homem que cria Deus”. A fé religiosa representa as próprias qualidades e aspirações do homem que, ao sentir-se fracassado, aliena-se e constrói uma divindade superior. 

Noreda Somu Tossan